Por: Diego El Khouri
Minha prepotência tem ingredientes de poesia e empoderamento existencial. Tenho sim uma história de vida incrível, inimitável, surreal. Atravessei portas e fronteiras e incomodei os mais desavisados e caretas com minha postura de vida e ousadia intelectual. Mas no mais sou abismo. Invólucro manto de um mistério que não se cala, apenas grita no vácuo sem as grades, sem afago e abraço. Outsider da galáxia de parnaso. Filho da puta sem ordens e regras. Face torta no torto âmago da morte. Penetrar, rasgar, cortar, atravessar a tela, pincéis de fogo e cores quentes múltiplas. Abismo não se cala. Ruínas dançam voluptuosa no cu das atmosferas falidas. A vidinha comum me persegue. Sigo reto louco nas curvaturas sinuosas das estradas do êxtase. Sou uma lenda. E lendas não tem alma. Lendas não carecem de respeito e afeto. Lendas apenas vomitam e nada esperam desse vômito sujo e apaixonado. Sou o energúmeno idiota burro ou o gênio iluminado e santo? Apenas ruínas. Ruínas cristalinas esfumaçadas, cannabis, "delirium tremens", eletricidade bandida... Sem presente e futuro: o abismo... grades trancafiadas, bebê enrolado em pano sujo de sangue, todo bebê agonizante é minha face nua no espelho, todo bebê é a infância da poesia ainda idílica e ingênua... a poesia, essa merda translúcida e lúdica, criminosa, "acendeu velas no meu crânio". A poesia me fez inimigo do estado, execrado das famílias tradicionais e um "perdulário do caos esbanjador de palavras preciosas". A poesia me fez querer beber o líquido do Dharma. Sim. Sou uma lenda. E lendas não carecem de mais nada.
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