“A minha voz persegue o que os meus olhos não alcançam”. Através das inúmeras
vozes que falam através do pincel, oriento o traço nas cores vivas que bailam
desnudas na contradição da vida intensa, na excentricidade delirante dos
sentidos e sobretudo na subversão poética dos costumes que é a raiz das artes
plásticas no mundo contemporâneo. A minha pintura aponta para vários caminhos.
As cores fortes e os traços rápidos (por vezes lento e tranquilo, porém este em
menor escala) rompem o equilíbrio das formas para atingir um nível em que uma
figura sobreponha a outra dando texturas grossas e infectadas de imagens na
obra. Vejo algo belo. O trágico perdendo sua veste e penetrando em temas não
muito explorados nem no mundo das artes como a religião, a fé, dogmas,
tradições, teorias, etc. Isso está bem claro no quadro que intitulei “A Igreja,
o Clero e o Prazer”. O moralismo e sua face contrária se beijando. A hierarquia
perigosa da religião ainda com cores quentes num flerte sempre presente com o sépia
e o preto. A aurora, o nascimento, a explosão. O vermelho e o amarelo em
excesso. Nisso muitos quadros casam. A fase agora é “alvorada embutida na
tela”. Prato cheio para acelerar a corrente sanguínea dos receptores atentos e
ao mesmo tempo lançar na mente dos mais afoitos a volúpia que se comunica com
diversos temas e ideias mesmo que não seja explicito em todos os quadros.
Sartre já dizia que o espectador traduz o sentido da obra de acordo com que
consegue alcançar tendo em vista suas próprias experiências. Cada pessoa deve
ser autor de suas visões. Delacroix já dizia que “a execução na pintura deve
sempre ter improvisação”. O fim não necessariamente deve ser igual ao começo.
Mesmo antes de me formar alguns anos atrás na turma técnica de Artes Visuais
Basileu França e expor em vários locais já produzia intensamente meus desenhos
e quadros, vendia e participava de exposições. Agora o momento é das cores
quentes, vibrantes, com pequenas camadas de nebulosidade e escuridão; o
mistério na pele exposta. O paradoxo como raiz. Edifício em escombros – outra
imagem contida nas telas. Disse numa entrevista que concedi em março de 2010
para Law Tissot do Rio Grande do Sul que grande parte do meu processo de
criação “ é contra o sono, o marasmo e o pensamento reacionário” e que a “ arte
tem que fugir do lugar comum e da mesmice.” Ainda concordo com isso, mas
prolongo esse pensamento dizendo também que arte é a beleza plena andando na
corda bamba sem medo algum. “É preciso dar o sangue”. Estar ligado com seu
tempo. Ousar, sentir, subverter, implodir e explodir. Millet estava certo. Na
arte não há espaço para covardes e minha pintura é o retrato vivo dos olhos que
lacrimejam sem medo, do carinho terno das manhãs sem pudor e o beijo colhido na
poesia feroz e delirante de alguns pensadores. (Diego EL Khouri)
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