Por: Diego El Khouri
Desde muito cedo percebi que meu caminho é o labiríntico ofício das artes. Meu primeiro romance escrevi aos 8 anos de idade e nunca mais parei. Tudo que fiz foi para eu tivesse mais ferramentas de produção. Li vorazmente tudo que me chegava pelas mãos (tive a sorte de possuir uma biblioteca em casa) e aos 14 anos, depois de ter lido tudo que tinha em meu lar, passei a pegar livros na biblioteca da cidade e copiar à mão para que eu tivesse a possibilidade de estudar, estudar e estudar cada detalhe afim de desenvolver e aprimorar as ferramentas de criação. Nessa fase eu já lia literatura hermética e mergulhava profundamente nos clássicos. Fazia listas de livros e ia atrás das obras. Isso antes do advento da internet (pelo menos para mim). Mas não fiquei apenas no campo da busca do aprimoramento intelectual. Também caí na vida. Aquela máxima piviana, "o poeta tem que cair na vida / deixar de ser broxa / pra ser bruxo". Costumo dizer que Baudelaire acendeu meu primeiro baseado. Passei pelo estilo punk "do it yourself" e pelas transgressões existenciais. Mergulho, portanto, em um paradoxo entre disciplina e loucura, lucidez e delírio. Emergi do seio das artes e fiz da minha vida uma jornada inimitável. Transformei as flores silvestres em "clísteres de êxtase " e meu olhar em torrentes intensas de poesia e vertigem. E vivi (e vivo) uma existência com características surreais. Minha arte me possibilitou conhecer pessoas interessantes e experimentar situações que uma pessoa dita "normal" jamais viveria. Um dos grandes males do sistema é indução de sentimentos de superioridade e inferioridade. Devemos cortar esses tentáculos de manipulação. Porém, tenho convicção que sou uma lenda do underground. Atravesso e implodo as estruturas. Não sou um artista relegado apenas aos subsolos. Transito em várias paragens e contribui, de forma muito intensa, com as artes do país. Se você, tiozinho e tiazinha, senhorsinho e senhorinha da academia, críticos de arte, curadores com suas barbas espessas e olhar apático, galeristas com seus castelos de marfim, não conhecem meu trabalho (e nem estou falando em gostar ou não), é porque não mais transitam com os pés no chão da contemporaneidade (ironia isso em se tratando em "espaços de conhecimento") e se perderam na rota da vida. O poeta Rimbaud já dizia que "é preciso ser absolutamente moderno" . Acredito que ser vanguarda é estar junto ou a frente dos fatos. Tenho plena consciência que minha história de vida tem traços marcantes de surrealismo devido as situações fantásticas que desenhei ao longo de minha existência. Muitas pessoas se surpreendem, quando conhecem ou presenciam algum fato da minha vida, e sei que tenho um impulso forte do diferente, do estranho, o "olhar não familiar " que Freud falava. Sei também que tudo que fiz na vida, desde os 6 anos de idade, foi, e repito, para que eu tivesse ferramentas que me tornasse um artista profundo, complexo, potente. É uma busca eterna e o grande barato é curtir a estrada e não simplesmente "o fim" dela.
* Na foto com 7 anos de idade
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