segunda-feira, 2 de abril de 2018

DIEGO EL KHOURI: ARTISTA EXPERIMENTAL




__ Emili Hirabara Tanaka 1
 Nathalia Eloá Aparecida dos Santos 2 __


Diego El Khouri, artista brasileiro nascido em 21 de março de 1986, na cidade de Orizona, Goiás. Além de artista plástico, é também poeta, ensaísta, contista, fanzineiro, cartunista, caricaturista e desenhista. Cresceu num ambiente propício para a criação artística, tendo contato com pincéis, tintas, água Raz e entre outros materiais utilizados por sua mãe, a também artista plástica, sendo ela sua primeira influência no meio artístico. Ainda no Ensino Fundamental, realizou sua primeira exposição na Universidade Federal de Goiás com apoio de sua professora, tratava-se de um gibi com estudos da história da cidade de Goianira. Recebeu diversos elogios, o que o incentivou a continuar estudando sobre arte até conhecer suas outras influências como os Beatniks, autores do romantismo e outros poetas, e vários artistas como Modigliani, Delacroix, Frida Kahlo e etc. Atualmente, essas referências ainda o influenciam, mas há novas figuras como Jean-Michel Basquiat, Jackson Pollock e também trabalhos que estão sendo produzidos agora. No geral, pode-se dizer que as referências que toma para si é a própria vida que vive, sempre buscando e aprendendo, baseando-se na frase de Roberto Piva: “Não acredito em poeta experimental que não tenha vida experimental”.

 POÉTICA​ ​E​ ​TÉCNICAS 

Em seus trabalhos não utiliza uma técnica específica, por isso o Fanzine seria o núcleo do seu processo criativo, já que lhe possibilita a utilização de vários meios. Segundo o artista, ele produz para não enlouquecer, pois se não produz, sente-se deslocado do mundo. Quando criança, tinha dificuldades de se relacionar, portanto, a arte veio como forma de subversão, um mecanismo de diálogo, sendo que sua linha motora de criação é a observação que faz do mundo, buscando diversificar seu pensamento e suas vivências.



Dessa forma, a poética do seu trabalho está direcionada diretamente com sua visão e experiência existencial. Como começou a trabalhar nas artes plásticas muito cedo, seu trabalho mostra-se por fases, seguindo certa lógica de criação. 
Diego relata uma experiência que lhe foi muito marcante e que posteriormente reflete em seus trabalhos que foi quando, numa madrugada, estava pintando freneticamente, durante uma noite inteira até que às 4 da manhã, o céu começou a clarear e já não aparentava mais “trevas”, houve a percepção de um duelo de cores entre vermelho alaranjado e o azul escuro, de forma que aparentasse uma dança orgíaca que lhe deixou maravilhado. Ele ficou tão impactado com a visão que teve, que a partir dessa experiência, sua obra mudou completamente, incorporando cada vez mais o contraste de cores, utilizando principalmente o vermelho. 
O trabalho de Diego, ao mesmo tempo que trabalha com sensibilidade, com nuances, com detalhes, também é voraz, intenso, com rajadas fortes de cores concentradas, tendo detalhes trabalhados de forma muito lenta, muito gradual, juntamente com bagunça, com a contradição. E para finalizar, sua poética também diz respeito ao Budismo de Nichiren, onde a luz em suas obras passou a ter um novo significado, no sentido de equilíbrio, do místico em estado selvagem. Para sintetizar, segue-se uma citação do próprio artista:

 Costumo dizer que eu nem me considero um artista, sou mais um cientista, eu trabalho dentro de um laboratório de criação, então, por isso trabalho com várias linguagens, não só a pintura, trabalho com poesia, com ensaios, com crônicas, com contos, com fanzines, com cartoons e tudo isso que eu trabalho é tradução de uma coisa só, então você vai ver minha pintura flertando com minha poesia e vice-versa.

ANÁLISE DA OBRA


FICHA​ ​TÉCNICA

 Título:​ ​Sutra de Lótus 
Técnica​: óleo sobre
 tela Dimensões​: 80 x 100 cm 
Localização:​ ​Aparecida de Goiânia- GO

 DETALHES​ ​DA​ ​OBRA​ ​-​ ​SUTRA​ ​DE​ ​LÓTUS 


1- Sobreposição à obra 2- O pescador 3- Besouros em Fileira 4- Recitação Do Mantra 5- Posição de Meditação 

SOBREPOSIÇÃO​ ​À​ ​OBRA

 Duas estruturas são fixadas à obra partindo da necessidade que Diego El Khouri sentia de ultrapassar o sentido da tela. Ao observar a obra de lado, o observador não poderá visualizar a figura central que se encontra num estado de iluminação, sendo essa uma metáfora que diz “Encare a vida de frente, busque seu autoconhecimento através da meditação” e o olho aberto sobre a cabaça é uma referência à frase de Oswald de Andrade “Ver com olhos livres.” Em uma das estruturas no canto superior direito são representadas figuras humanas andando em fila até cair num lugar comum, com a figura opressora da igreja tradicional em frente a elas num ato de repressão. Na estrutura fixada no canto superior esquerdo são apresentados elementos do corpo humano, expondo-as abertamente, para dar a ideia de que é necessário sair de si próprio para atingir o nirvana.

O​ ​PESCADOR

O pescador diz respeito à necessidade da busca humana por capturar novas ideias mesmo com a presença da figura opressora, representada por um titeriteiro que nada mais seria do que o Estado manipulando a população, ou seja, as marionetes. 

BESOUROS​ ​EM​ ​FILEIRA



 Na parte inferior da  obra o artista faz uma crítica à sociedade, onde são adicionados besouros em fileiras, quase saindo da tela, representando uma sociedade onde todos estão seguindo algo sem nem mesmo saber o que é, pois não está explícito. Budismo seria um caminho ou forma de libertação. RECITAÇÃO​ ​DO​ ​MANTRA No canto esquerdo da tela encontram-se duas pessoas recitando o Nam-Myoho-Renge-Kyo, mantra da filosofia budista de Nichiren Daishonin. 

POSIÇÃO​ ​DE​ ​MEDITAÇÃO 

A figura central se encontra em posição de meditação, sendo ela uma referência à práticas budistas e ao escritor e poeta da geração Beat, Allen Ginsberg, muito conhecido pelo seu livro de poesia Howl, uma inspiração para a personagem Alvah Goldbook da obra Os Vagabundos do Dharma ou Os Vagabundos Iluminados de Jack Kerouac (3) , um romance que  tem por objetivo a procura do protagonista por um contexto "budista" para as suas experiências e para as pessoas com quem cruza, um tema recorrente ao longo de toda a história. Ambos são praticantes da filosofia budista, e essa, segundo o artista, é a sua primeira obra de referência à iluminação alcançada através da prática budista.

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1 Aluna de graduação do Curso Artes Visuais Bacharelado, frequentado na Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás – Goiânia, GO. Contato: emilitnk@yahoo.com.br

Aluna de graduação do Curso Artes Visuais Bacharelado, frequentado na Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás - Goiânia, GO. Contato: natheloa@gmail.com
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(3)JACK KEROUAC, Jack . The Dharma Bums. Estados Unidos: The Viking Press, 1958. 187 p.