sábado, 13 de abril de 2019

ENTREVISTA COM DIEGO EL KHOURI






Por: Joka Faria


Por volta de setembro do ano passado “2018”, enviei essa entrevista ao artista Diego El Khouri, poeta, artista plástico, uma figura antenada nas redes sociais e nas ruas. Acompanho há um bom tempo seu trabalho e me senti à vontade para lhe enviar essas perguntas, respondidas agora em Fevereiro de 2019.
O artista divulga poetas, artistas plásticos, além de mostrar suas obras em fanzines, redes sociais, blogs e também colunista do Entrementes.
Aqui suas reflexões sobre minhas perguntas, tentando desvendar os caminhos das artes e da educação formal e informal. Vale a pena ler, refletir e comentar. Afinal as pedras rolam.
Com vocês, a inquietante pessoa e sua obra.
Joka Faria

“Os dias gastos fazem parte do retalho que servirá ao fim da jornada de veste e abrigo”.
Diego El Khouri

Joka Faria entrevista Diego El Khouri

Caos com C destruição, com K criação
Arte – Uso e desuso numa sociedade em decadência?
Todos os mecanismos estão conectados com as relações de poder. A arte também responde a esses interesses. Cada um escolhe um caminho. Uns buscam aprisionar e outros libertar. Minha arte é o prolongamento do que sou. Nela me crio, me reinvento. Fênix. Bodisatva da palavra. Há arte na beleza, na decadência, nos abismos, nas fezes, em tudo. O núcleo é a poesia.
Comente sobre Arte nas escolas.
O entendimento da cultura visual pode ampliar o olhar, ‘ver com olhos livres’ como dizia Oswald de Andrade. Estamos vivendo um abismo. No precipício da ignorância. A cultura visual é uma produção social e o olhar uma construção cultural. Acredito na potência das artes e no poder de transformação.
Como você vê o ECA?
A miséria é criada de forma consciente por poderes que controlam a política e o sistema monetário mundial. O Estatuto da Criança e do Adolescente menciona a proibição de qualquer forma de trabalho até os 13 anos. O tráfico também abraça essa faixa etária em crianças que moram em local de risco e esquecido pelo Estado. Creio que a educação seria um meio de enfrentar toda essa problemática. E não falo em educação apenas em lugares institucionalizados. A educação se dá em qualquer lugar. Sem verdades absolutas. Instigar o gosto pela reflexão e pensamento crítico. Ampliar o olhar.
O ensino formal esta em desuso?
O ensino formal está preso na mesma lógica de poder. Não há interesse algum das grandes corporações investirem em educação para a população. Pelo contrário, o que fazem é sabotar o ensino desde a base. O mundo acadêmico também sofre influencia dessas relações de poder. Sentimentos de superioridade e inferioridade. Segregação de informações, conhecimento, etc. Acredito nas resistências, no poder de transformação através delas.
Os acadêmicos entendem realmente o chão da escola?
Inseridos no mesmo sintoma doentio de castas de superioridade e inferioridade a academia cria bloqueios, de forma pensada, com a grande população não ter acesso a faculdade. Nos últimos anos tivemos uma melhoria na questão das minorias adentrar a universidade, mas ainda estamos longe do ideal. Até quando trabalham em pesquisas tendo como as comunidades e periferias como alvo, no final das contas esses locais serão abandonados e a pesquisa engavetada. Há exceções e nelas me fixo.
Comente sobre o vermelho em sua pintura.
Uma experiência surreal que vivi em 2012. Desde então o por do sol escarlate, o vermelho-vivo, o vermelho-sangue está cada vez mais presente na minha produção no campo das artes visuais. Existe uma influencia da psicodelia também no uso dessas cores. Experiências com ayahuasca, xamanismo, mantras budistas como o daimoku de nitiren daishonin, tudo dançando nas formas intensas dessas últimas telas. A busca pela luz sempre foi um dado importante na minha criação artística visual.
Quais as cores de Goias ?
As cores tem potencia psicológica e física. Estudei muito as teorias das cores de Kandinsky e Paul Klee, desenvolvidas pela escola alemã de Bauhaus. Escola criada em 1919 e que influenciou, de forma importante, a arte e a7 estética moderna. As cores de Goiás partem de mim e viajam no universo, do universo em mim, da natureza, a natureza em mim, em ti. Somos partes do todo. As minhas leituras, experiências vivenciais, pesquisas realizadas, tudo interferem em meu trabalho artístico, nas inúmeras linguagens que experimento diariamente.
Comente sobre a Fauna e flora em sua arte.
Somos a natureza refletida em nós.
Você acredita em alguma mudança através de redes (insonsas) sociais?
Acredito que tudo pode ser ferramenta de ação, ruptura e transformação. A educação seria o pilar principal dessa mudança, mas não devemos descartar outras abordagens e ações.
Fale sobre as Vanguardas e sua não existência na arte do séc vinte e um?
As vanguardas foram importantes no processo de ruptura e liberdade. Hoje em dia vanguardas não fazem mais sentido. É questão de época mesmo. Hoje é tudo muito voraz e passageiro.
Tudo é uma coisa só e ao mesmo tempo não é.
Liberal, libertário incendiário?
Incendiário com olhos de fogo. Piva falava que poesia rima com ‘ amor, revolta e liberdade’. Comungo dessa visão. Sou anti convencional e vivo uma vida nada convencional. Incomodo muito, mas também causo admiração por uma camada importante das artes. Sou uma ‘mosca nas sopa’. Sei que incomodo. Dinamite pulsante sempre incomoda aqueles que vivem uma vida normalzinha, comum, igual, sem abismos, entregas, mergulhos. Só os corajosos abrem de fato os olhos. A existência inimitável. A vida como obra de arte assim como os gregos defendiam. A vida como obra de arte.
Considerações finais:
Arte causa êxtase, asco, prazer, dor. Tudo ao mesmo tempo. Corrente elétrica delirante. O  O bloqueio real das bolhas que nos separam.

* Retirado  do Portal Cultural  entrementes.com.br