Por: Diego El Khouri
A arte sempre fez parte de minha existência. Muito cedo eu já sabia quem eu era e o que queria nessa vida. O primeiro livro que escrevi aos 8 anos de idade (uma obra com mais de 100 páginas ) já trazia um texto complexo, um linguajar vasto e que encerrava na história uma moral filosófica e profunda. Claro que essa estranheza me trouxe inúmeros problemas familiares. Ser diferente é um preço alto que se paga nessa sociedade careta e reacionária. Vivi 1000 vidas em uma só, inúmeras situações nessa jornada louca do poeta errante. Mergulhei na adolescência no punk (não sou mais punk porque não sou museu mas o "faça você mesmo e a transgressão comportamental do estilo ainda permeiam meus passos e a Editora Merda na Mão, veículo de publicação independente criada com o grande escritor e irmão Fabio da Silva Barbosa, trás fortemente esses elementos contestadores).
A vida como obra de arte, a estética paradoxal (do idílico ao torpe), me levou a vivenciar situações surreais mais loucas que qualquer biografia de artista maldito que se vê por aí: sexo desenfreado, drogas diversas , leituras obsessivas (cheguei a ler um livro por dia em longo período), viagens, exposições de pinturas, eventos poéticos, bares sujos, loucuras, transcendências... Tudo... Praticamente tudo que fiz na vida foi na busca de ter mais ferramentas para a criação. Realmente poderia aqui relatar algumas passagens de minha jornada nesse planetinha louco, mas quero me concentrar em um importante prêmio que fui contemplado esse final do ano de 2023.
Tive a honra de ser premiado no "I Prêmio Nacional de Fanzines e Artezines" que ocorreu durante o IV FESTIVAL NACIONAL DE ARTES CIBERPAJELANÇA na categoria MELHOR FANZINE GOIANO com o zine FALA AÊ , PORRA!!! nr. 2 lançado pela lisérgica punk EDITORA MERDA - um evento organizado pelo grupo de pesquisas Criaciber realizado na Faculdade de Artes Visuais na Universidade Federal de Goiás e tendo como orientador o grande artista multimídia Edgar Franco, conhecido também como Ciberpajé. Pra mim foi uma imensa satisfação receber tal reconhecimento, ainda mais nesse momento singular e complicado no qual estou atravessando. Esse grupo apresentou 1 ano de pesquisa desenvolvido na universidade e o tema desse ano foi Arte transmidiática contra o binarismo anticósmico.
Ao receber esse prêmio (que muito me emocionou) fiz um discurso inflamado contando resumidamente a história da Editora Merda na Mão, sobre essa ceninha tosca e careta de Goiânia e valorizando as exceções do caminho. Foi Phoda receber esse puta reconhecimento, ainda mais na semana que uma escritora da UBE (União Brasileira dos Escritores) disse que nosso trabalho não ia ser respeitado nunca e que parecia papo de "revoltadinho". Revoltadinho o caralho!!! É revoltadaço!! Mas avisem essa senhora que eu não inventei a subversão e temos conexões com a cena undeground transgressiva/underground do mundo como, por exemplo, Seborreia Recife aqui do Brasil ou a Murder Records da Holanda. A intenção é também ser indigesto, porém o que mais me impressiona é a falta de conhecimento histórico dessa galera com diploma e acesso a cultura. Pior ainda quando utilizam exemplos citando nomes como o bardo Paulo Leminsk usando o poeta como exemplo de rebeldia bonitinha e comporta... com esse tipo de afirmação revelam ainda mais a falta de conhecimento.
Preguiça ou meramente preconceito?
Não seremos nunca respeitados? Somos arte de combate e não buscamos tapinhas nas costas e nem aplauso da plateia. Estamos fora de qualquer modinha! Nosso bagulho é outra coisa! É a clandestinidade, o desbunde, a imoralidade, o ódio aos senhores. Cuspir no sacrário, esquartejar a palavra, vomitar na cara sem graça da caretice... Porém, mesmo tendo essa postura de enfrentamento fomos estudados em uma disciplina da Faculdade de Letras de São Carlos (SP), dois projetos de TCC , tese de mestrado, além de acervo em biblioteca federal, projeto pedagógico em escola pública do Mato Grosso, etc. etc. etc.. É muita coisa e não vou me atentar agora nesses relatos. Aqui no blog e em todas as redes anti sociais estão todas as ações já desenvolvidas pela EMNM.
Se quiser conhecer você que adentre esse labirinto!!
Foi louco perceber nesse evento que tinha uma galera de outros estados que conhecia o nosso trabalho. A ideia é essa mesmo: espalhar arte, ocupar os espaços, dar um chute na bunda dos vermes. O mais phoda foi ver uma galera de apenas 18 anos de idade que foi ao evento porque curte pra caralho o trampo da lisérgica punk Editora Merda na Mão.
Temos essa ideia de enfrentamento e choque. O nome da editora já diz muito pra que viemos. Arte indigesta e ingovernável. Eu e Fabio estamos em dois grandes polos reacionários: Goiás e Rio Grande do Sul. Isso é bem simbólico. Críticas são bem vindas, mas já ouvi aqui nesse estado coronelista e moralista muito argumento bizarro: que os palavrões e gírias que eu falo nos vídeos atrai os espíritos das trevas e isso afasta o público, que nunca vamos estar na modinha (hahahhahhahaha), que a editora contribui com o fortalecimento do bolsonarismo porque é o momento de fazer arte fofinha e goodvibe para não acender a fúria ainda mais dos fascistas, que nunca vamos comprar um carrão com essa editora (povo viaja demais ) e se nenhum autor que a gente publica não está ganhando muito dinheiro está errado (publicamos geral sem cobrar nada)... Por incrível que pareça são comentários que ouvi aqui em Goiânia... Não precisa gostar, mas tenho preguiça de argumento burro...
Irônico: o zine FALA AÊ PORRA nr. 2 (a capa é uma xilogravura que fiz no ateliê de gravura da Faculdade de Artes Visuais na UFG, obra essa que é uma releitura de uma pintura minha, óleo sobre tela, da série Clown) em uma das páginas trás essa crítica ácida e pesada que tenho com a hegemônica cena goiana:
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