sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

XXI : HQ visceral, escatológica, podre, crítica e antifa




Por: Diego El Khouri,
 o outsider da galáxia de parnaso



200 PÁGINAS DE UMA VISCERALIDADE QUE NUNCA SE VIU NOS QUADRINHOS MUNDIAIS

(Pra ter essa clara noção é preciso ler toda a HQ / esse pequeno recorte nessa postagem não chega nem perto do que te aguarda )



Novembro de 2018: ascenção do fascismo, direita extrema, conservadorismo, hecatombe social... Mergulhado nesse espírito se inicia uma série de pinturas intituladas Século Sinistro. O vermelho sangue como elemento de violência, releituras de fotos tiradas nos anos de chumbo da ditadura (ressignificando  colocando os pretos em destaque como alvo da repressão na contemporaneidade), o retrato nu e cru desses tempos bizarros e sombrios...

            * Primeira tela da série Século Sinistro

Óleo sobre tela, 40 x 80 cm


 Em janeiro de 2019 se inicia um desmembramento da série de pinturas e comecei a trabalhar simultaneamente com a HQ  intitulada  XXI, em referência ao século.  É possível em vários fragmentos da "arte sequencial", como Will Eisner definia as histórias em quadrinhos, ver elementos das pinturas, às vezes inspirando  uma página inteira. Há uma diferença cromática visível: nesse trabalho impresso tem como estética o não branco no papel, dando ainda mais uma carga sombria ao trabalho. Cada capítulo é como se fosse um pequeno conto em forma de quadrinhos (o núcleo do roteiro está aí...). Embora cada história tenha começo, meio e fim, há uma abertura que costura cada capítulo, colocado em ordem estratégica como um álbum musical, faixa por faixa.



Século sinistro. Óleo sobre tela, 15 x 19 cm




Trecho da HQ XXI 

A estrutura narrativa faz  uma sátira com a internet, reality show e programa de tv sensacionalista. Principalmente quando é empregado a técnica da quarta parede, como se os personagens conversassem diretamente com o leitor , intensificando a ideia de estar sempre filmado, o tempo todo, num imenso g reality show. Celulares com suas câmeras opressoras e normalizadas . Há uma poesia fina que perpassa  o roteiro tão pesado. Às vezes  cru e direto como faca na carne, às vezes surrealista, em outros momentos simbolista e até lírico, extremamente lírico. Isso se deve a construção específica diferenciada na execução de cada roteiro ( em alguns momentos a partir de  uma poesia, às vezes em forma de conto bem estruturado do início a fim, às vezes uma frase e vou perseguindo uma história que não sei onde vai dar)... Todas as mazelas humanas estão ali expostas: racismo, homofobia, feminicídio, nazismo, repressão... Tudo de forma muito pesada e extremamente poética e crítica: um retrato pessoal e coletivo desse bizarro século sinistro!!!!!




Título: XXI

Roteiro e desenho: Diego El Khouri

Prefácio: Fabio da Silva Barbosa

200 páginas


*Editora Merda na Mão*


Publicando os impublicáveis




Poucos registros se tem da época da ditadura no Brasil da violência em cima dos pretos e periféricos. Essa série tenta romper com essa lógica 











A HQ XXI ela bate em todos os espectros políticos legitimados (seja de esquerda ou de direita apesar do impulso maior foi a ascenção do nazi fascismo no Brasil)
      
                 Malucos e malucas, 

Eis mais um pequeno spoiler do que está vindo por aí:


















****************

HQ XXI expondo as vísceras do século sinistro:



HQ XXI: HQ pesada, sinistra, violenta e visceral!!!!!!!!!!!!!:



HQ XXI: arte crítica, violenta e escatológica:


ALELUIA NUNCA MAIS esquartejando os tímpanos e HQ XXI:

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Diego El Khouri é premiado na categoria MELHOR FANZINE GOIANO no "I Prêmio Nacional de Fanzines e Artezines" realizado durante o IV Festival de Artes Ciberpajelanças / Editora Merda na Mão ocupando os espaços

 

 Por: Diego El Khouri




A arte sempre fez parte de minha existência. Muito cedo eu já sabia quem eu era e o que queria nessa vida. O primeiro livro que escrevi aos 8 anos de idade (uma obra com mais de 100 páginas ) já trazia um texto complexo, um linguajar vasto e que encerrava na história uma moral filosófica  e profunda. Claro que essa estranheza me trouxe inúmeros problemas familiares. Ser diferente é um preço alto que se paga nessa sociedade careta e reacionária. Vivi 1000 vidas em uma só, inúmeras situações nessa jornada louca do poeta errante. Mergulhei na adolescência no punk (não sou mais punk porque não sou museu mas o "faça você mesmo e a transgressão comportamental do estilo ainda permeiam meus passos e a Editora Merda na Mão, veículo de publicação independente criada com o grande escritor e irmão Fabio da Silva Barbosa, trás fortemente esses elementos contestadores). 


A vida como obra de arte, a estética paradoxal (do idílico ao torpe), me levou a vivenciar situações surreais mais loucas que qualquer biografia de artista maldito que se vê por aí: sexo desenfreado, drogas diversas , leituras obsessivas (cheguei a ler um livro por dia em longo período), viagens, exposições de pinturas, eventos poéticos, bares sujos, loucuras, transcendências... Tudo... Praticamente tudo que fiz na vida foi na busca de ter mais ferramentas para a criação. Realmente  poderia aqui relatar algumas passagens  de minha jornada nesse planetinha louco, mas quero me concentrar em um importante prêmio que fui contemplado esse final do ano de 2023.


Tive a honra de ser premiado no "I Prêmio Nacional  de Fanzines e Artezines" que ocorreu durante o IV FESTIVAL NACIONAL DE ARTES CIBERPAJELANÇA  na categoria  MELHOR FANZINE GOIANO com o zine FALA AÊ , PORRA!!! nr. 2 lançado pela lisérgica punk EDITORA MERDA - um evento organizado pelo grupo de pesquisas Criaciber realizado na Faculdade de Artes Visuais na Universidade Federal de Goiás e tendo como orientador o grande artista multimídia Edgar Franco, conhecido também como  Ciberpajé. Pra mim foi uma imensa satisfação receber tal reconhecimento, ainda mais nesse momento singular e complicado no qual estou atravessando. Esse grupo  apresentou 1 ano de pesquisa desenvolvido na universidade e o tema desse ano foi Arte transmidiática contra o binarismo anticósmico. 




Ao receber esse prêmio (que muito me emocionou) fiz um discurso inflamado contando resumidamente a história da Editora Merda na Mão, sobre essa ceninha tosca e careta de Goiânia e valorizando as exceções do caminho. Foi Phoda receber esse puta reconhecimento, ainda mais na semana que uma escritora da UBE (União Brasileira dos Escritores) disse que nosso trabalho não ia ser respeitado nunca e que parecia papo de "revoltadinho". Revoltadinho o caralho!!! É revoltadaço!! Mas avisem essa senhora que eu não inventei a subversão e temos conexões com a cena undeground transgressiva/underground do mundo como, por exemplo,  Seborreia Recife  aqui do Brasil ou a Murder Records da Holanda. A intenção é também  ser indigesto, porém o que mais  me impressiona é a falta de conhecimento histórico dessa galera com diploma e acesso a cultura. Pior ainda quando utilizam exemplos citando nomes como o  bardo Paulo Leminsk usando o poeta como exemplo de rebeldia bonitinha e comporta... com esse tipo de afirmação revelam ainda mais a falta de conhecimento. 

Preguiça  ou meramente preconceito? 



Não seremos nunca respeitados? Somos arte de combate e não buscamos tapinhas nas costas e nem aplauso da plateia. Estamos  fora de qualquer modinha! Nosso bagulho é outra coisa! É a clandestinidade, o desbunde, a imoralidade, o ódio aos senhores. Cuspir no sacrário, esquartejar a palavra, vomitar na cara sem graça da caretice... Porém,  mesmo tendo essa postura de enfrentamento fomos estudados em uma disciplina da  Faculdade de Letras de São Carlos (SP), dois  projetos de TCC , tese de mestrado, além de acervo em biblioteca federal, projeto pedagógico em escola pública  do Mato Grosso, etc. etc. etc.. É muita coisa e não vou me atentar agora nesses relatos. Aqui no blog e em todas as redes anti sociais estão todas as ações já desenvolvidas pela EMNM. 


Se quiser conhecer você que adentre esse labirinto!!



Foi louco perceber nesse evento que tinha uma galera de outros estados que conhecia o nosso trabalho. A ideia é essa mesmo: espalhar arte,  ocupar os espaços, dar um chute na bunda dos vermes. O mais phoda  foi ver uma galera de  apenas 18 anos de idade que foi ao evento porque curte  pra caralho o trampo da lisérgica  punk Editora Merda na Mão.


Temos essa ideia de enfrentamento e choque. O nome da editora já diz muito pra que viemos. Arte indigesta e ingovernável. Eu e Fabio estamos em dois grandes polos reacionários: Goiás e Rio Grande do Sul. Isso é bem simbólico. Críticas são bem vindas, mas já ouvi aqui nesse estado coronelista e moralista muito argumento  bizarro: que os palavrões e gírias que eu falo nos vídeos atrai os espíritos das trevas e isso afasta o  público, que nunca vamos estar  na modinha (hahahhahhahaha), que a editora contribui  com o fortalecimento do bolsonarismo porque é o momento de fazer arte fofinha e goodvibe para não acender a fúria ainda mais dos fascistas, que nunca vamos comprar um carrão com essa editora (povo viaja demais ) e  se nenhum autor que a gente publica não está ganhando muito  dinheiro está errado (publicamos geral sem cobrar nada)... Por incrível que pareça são comentários que ouvi aqui em Goiânia... Não precisa gostar, mas tenho preguiça de argumento burro...

Irônico: o zine FALA AÊ PORRA nr. 2 (a capa é uma xilogravura que fiz  no ateliê de gravura da  Faculdade de Artes Visuais na UFG, obra essa que é uma releitura de uma pintura minha, óleo sobre tela, da série Clown)  em uma das páginas trás essa crítica ácida e pesada que tenho com a hegemônica cena goiana:


Trecho do zine Fala Aê Porra!!! nr. 2


Capa do zine zine Fala Aê Porra!!! nr. 2

Título: Fala "Aê", Porra!!
Editor: Diego El Khouri
Formato: 14X21 cm
Páginas: 24
Arte da capa: Diego El Khouri



Título: Clown reflexivo Técnica: óleo sobre tela Dimensões: 100 x 80 cm Artista: Diego El Khouri










Espaço Ruptura Cultural




























* Quadrinhos que a EMNM ganhou do artista Alian


*Zines que a EMNM recebeu do zineiro e pesquisador Gazy Andraus